A política do apartheid na África do Sul, onde a segregação social contra os negros deu origem ao Dia Internacional Contra a Discriminação Racial, celebrado no dia 21 de março, em todo o mundo, serve de alerta para que a sociedade não repetida os erros cometidos. Naquela ocasião, em 1966, cerca de 20 mil pessoas protestavam em Johannesburgo contra a lei que limitava a circulação de negros na cidade e foram recebidas a tiros pelas tropas militares.

Por isso, a data instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU) é sempre marcada por reflexões e debates sobre o antirracismo e como cada um pode contribuir para uma sociedade mais diversa e igualitária.

No Brasil, a Constituição garante que todas as pessoas são iguais perante a lei, mas o racismo estrutural existente dificulta essa equidade, mesmo o país tendo 55,8% da população negra, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Os dados da PNAD – Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios Contínua traduzem essa realidade em diferentes aspectos como educação, renda, segurança, saúde, cultura e alimentação. Por exemplo, o consumo regular de frutas e hortaliças é 33% menor na população negra em relação à branca. Enquanto 39% dos brancos consomem esses alimentos pelo menos cinco dias da semana, o percentual é de apenas 29% na população negra. O baixo consumo de alimentos in natura é um fator de risco para diversas doenças crônicas, segundo o Ministério da Saúde.

Esse dado vai ao encontro de outro recorte importante sobre esse debate que é o racismo ambiental, termo mais recente, que nos remete à discriminação racial no meio ambiente e que atinge em sua maioria as pessoas pretas, indígenas e periféricas, ou seja, que moram em regiões afastadas dos grandes centros urbanos.

Segundo Marcia Cristina Figueiras Gonçalves, consultora em Diversidade e Inclusão, a origem desse conceito remonta aos anos de 1981 quando Benjamin Franklin Chavis Jr. – liderança do movimento negro norte americano e que foi assistente de Martin Luther King – criou o tema com base em uma pesquisa sobre a relação entre depósitos de resíduos tóxicos e a população negra nos Estados Unidos. “Para ele, o racismo ambiental é a discriminação racial no direcionamento deliberado de comunidades étnicas e minoritárias para exposição a locais e instalações de resíduos tóxicos e perigosos, juntamente com a exclusão sistemática de minorias na formulação, aplicação e remediação de políticas ambientais”, afirma Márcia.

Racismo ambiental no Brasil

Para pensar o tema no Brasil, segundo a consultora, precisamos nos lembrar das nossas raízes escravocratas e entender o racismo em todas as suas formas: estrutural, funcional e ambiental. “O debate é necessário principalmente porque mais da metade da população brasileira formada por pretos e pardos sofre com as consequências das alterações climáticas diariamente. Uma maioria que não se vê representada em posições estratégicas, de tomada de decisão e na criação de políticas públicas em prol da pauta racial”, destaca Marcia, ao acrescentar que o racismo ambiental permeia os grupos étnicos minoritários que são os indígenas, quilombolas e periféricos.

Para exemplificar, podemos citar as disputas dos territórios quilombolas e indígenas, a violação dos direitos humanos, a não demarcação de terras e desmatamento florestal, além da falta de saneamento básico, um importante indicador de racismo ambiental no nosso país. “Foi dentro deste contexto que o Movimento Negro brasileiro viu a urgência de levar o recorte racial para o centro do debate climático durante a Conferência da ONU, uma vez que 80% do território brasileiro é composto por terras preservadas e os grupos que vivem nestas áreas, lutam pelos seus direitos, sofrem ameaças e muitos são assassinados. Mesmo com mais de 3.000 comunidades quilombolas no país, poucas foram regularizadas”, explica Marcia.  

A conscientização é um primeiro passo para vencer o racismo que é excludente, injusto e até mata, segundo Marcia. “A construção de políticas públicas sólidas é a base, mas é também a partir da consciência de nossas escolhas diárias que vamos construir as mudanças. Quando eu bebo um copo de água que veio da torneira da minha casa é porque eu moro num bairro onde tem saneamento básico por conta da classe social onde está inserido. Ter essa percepção consciente é uma boa reflexão sobre a prática de racismo ambiental”, destaca Marcia. 

A TK Elevator promove por meio do Comitê de Diversidade, Equidade e Inclusão debates para os colaboradores em datas especiais, como o Dia Internacional Contra a Discriminação Racial. O objetivo é contribuir para a construção de uma cultura de respeito às pessoas e valorização das diferenças, lançando luz e voz sobre a realidade brasileira.           

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