Quando em 31 de dezembro o relógio indicar meia-noite, o mundo terá deixado para trás um 2020 completamente atípico. Um ano que vai entrar para a história, pois revolucionou o dia a dia de cada cidade e habitante, independentemente das escolhas de cada um, da classe social ou de qualquer outro tipo de referência ou parâmetro usado.
A pandemia do novo coronavírus provocou uma mudança de paradigmas que exigiu – e ainda vai exigir – esforços coletivos com o objetivo urgente de propor ações preventivas, profilaxias e recuperação da humanidade pós-pandemia.
Um momento único na história e de união entre várias formas de pensar o mundo. Ciência, economia, saúde, arquitetura, construção e urbanismo são apenas algumas das vertentes que vislumbram um futuro que já está batendo à porta.
Hoje, 15 de dezembro, quando é celebrado o Dia do Arquiteto e Urbanista, cabe mais do que nunca destacar o importante papel desse profissional que tem o desafio de pensar e propor as mudanças necessárias e alinhadas às transformações a que o mundo foi submetido.
Novas tendências
As medidas de restrições, o isolamento e o distanciamento social alteraram completamente o jeito das pessoas se relacionarem com o mundo surgindo, assim, novas necessidades e, consequentemente, novas tendências.
Quando se fala em projetar o futuro é essencial incluir os espaços domésticos, ou seja, as próprias casas, além dos ambientes de trabalho e as áreas públicas, já que tudo foi afetado mediante os novos hábitos e posturas adotados pelas populações.
Segundo Carla Estrella, arquiteta e diretora associada do escritório de arquitetura Königsberger Vannucchi, muitas pessoas começaram a repensar os espaços das próprias casas por ficarem mais tempo nelas. Já quanto ao mercado corporativo, a profissional conta que mesmo antes da pandemia os arquitetos estavam buscando novas formas de melhorar os locais de trabalho com foco no bem-estar dos colaboradores.
“Acho que os arquitetos têm a oportunidade, mais do que nunca, de acompanhar as novas tendências e criar espaços mais saudáveis”, comenta. O desafio, de acordo com Carla, será encaixar espaços generosos em pequenos terrenos. Já a sustentabilidade, que já era uma necessidade, passará a ser premissa. “As mudanças são de fato desafiadoras, mas gostamos disso e acho que só temos a ganhar a partir de agora”, confidencia a arquiteta.
Um novo jeito de morar
Com a pandemia, a maioria das pessoas passou mais tempo dentro de casa, uma necessidade que impulsionou novos lançamentos no mercado imobiliário, bem como a venda de terrenos e de casas e apartamentos.
Os novos projetos, diante dessa realidade, devem atender às novas demandas. Surgiu então a necessidade de se criar espaços mais iluminados, banheiros mais ventilados e mais áreas de terraços ou jardins antes pouco valorizadas.
Sem contar a necessidade de se abrigar o espaço de trabalho em casa que, em muitos casos, veio para ficar. O arquiteto tem, portanto, a meta de garantir às pessoas que fazem home office qualidades como conforto, organização, produtividade e privacidade.
Já a cozinha passou a ser vista como um espaço, antes de tudo, funcional. Para isso, a ideia é ser mais ampla e planejada em favor da praticidade para os preparos. O conceito aberto, que a integra à sala de jantar ou de estar, também se mostra como uma nova preferência, pois permite maior socialização.
A arquitetura para as residências pós-pandemia ainda contempla o uso de revestimentos de fácil higienização, e que ao mesmo tempo enriquecem a decoração, além da presença de mais plantas, criando a sensação de aconchego e frescor.
Essa nova fase do “pensar a casa”, também lança luz sobre áreas até então pouco valorizadas como, por exemplo, o hall. Diante do novo hábito de trocar o sapato usado na rua antes de entrar em casa, higienizar as mãos, entre outros costumes, o hall precisa de adaptações para garantir suporte para essas tarefas.
Outra demanda que ganhou força se refere aos espaços para a prática de exercícios e demais áreas de uso comum, que devem ter tamanho adequado para a realização das atividades e acessibilidade, além de perfeita ventilação.
Espaços Corporativos
Para garantir uma transição adequada pós-pandemia, os arquitetos, assim como os engenheiros e os profissionais de saúde pública, estão criando diretrizes de projeto para fornecer às pessoas recursos seguros e eficientes, principalmente quando elas voltarem para os espaços corporativos. Já tratamos deste tema aqui no blog.
A ideia é encontrar um equilíbrio entre otimizar as operações e manter as pessoas seguras, reabrindo o mundo com risco reduzido de transmissão do vírus, promovendo padrões de distanciamento social e melhorando o bem-estar.
Os projetos comerciais, segundo Carla, tiveram grande desaceleração durante a pandemia, justamente pelo fato de as pessoas estarem mais em casa, inclusive trabalhando. Mesmo diante desse cenário, há mudanças de rumo também para esse segmento da construção.
Os edifícios de pele de vidro, sem ventilação natural e que dependem exclusivamente de ar condicionado tendem a diminuir, segundo a arquiteta. Para ela, o mercado repensará os espaços corporativos apostando em escritórios que apresentem uma relação mais generosa entre número de funcionários e a área física e que sejam mais arejados. “Trazer o design biofílico também tem se mostrado um caminho saudável no dia a dia das empresas, pois o contato com a natureza garante inúmeros benefícios para os colaboradores e para as próprias empresas”, atesta.
Trata-se, sem dúvida, de uma mudança de direção a curto prazo e que terá impacto direto na maneira como os funcionários se relacionam e se comunicam, assim como na maneira como se contratam os novos colaboradores. Efeitos a médio e longo prazo também terão consequências na gestão dos espaços físicos, nos sistemas de tecnologia da informação assim como, obviamente, nos recursos humanos.
Práticas ainda mais sustentáveis
A sustentabilidade ganhou força em virtude da pandemia. A mudança nos hábitos de consumo culminou no uso mais consciente dos recursos naturais. Por isso, os projetos de arquitetura deverão contar com materiais que causam o menor impacto possível na natureza, como fontes de energia limpa ou renováveis, aquecimento solar, sistema de iluminação fotovoltaica, entre outros elementos.
Diante de tantas mudanças, é fundamental que os profissionais se mantenham atualizados para elaborarem projetos que supram as novas demandas e conquistem os clientes.
Uma coisa é certa: é impossível voltar para o mesmo lugar de onde partimos. Daí a importância do arquiteto no redesenho desse mundo novo, da cidade, em todas as escalas, desde as unidades de habitação, dos espaços de trabalho, como também do espaço público.
O caminho é árduo e, sobretudo, desafiador, porém é também condizente com o momento em que o mundo todo parou e deflagrou novas necessidades diante de um universo nunca antes imaginado.