As mudanças nas relações de trabalho e como elas estão impactando na rotina das empresas e na vida das pessoas é tema de vários estudos em busca de respostas para um cenário futuro.

Refletindo sobre uma realidade pós-pandemia, os pesquisadores já identificaram o que chamam de tendências e apontam para alguns pontos que convergem para um trabalho com significado e que fomente a criatividade e cause impactos na sociedade e na busca por equilíbrio e bem-estar entre a vida pessoal e profissional.

Segundo Evelin Bicca, da Inova Consciente, consultoria de inovação, a pandemia acelerou processos que já estavam em curso por conta de um período de transformação radical das relações humanas. “Apesar de um mundo cada vez mais tecnológico, a peça-chave é o ser humano. Neste sentido, duas palavras-chaves dessa revolução são: inovação e consciência. Inovação nessa linha de pensar novas formas de fazer as coisas, tornar a vida das pessoas melhor e resolver problemas reais ao nosso redor. E, consciência para entender que todos nós somos únicos e temos um propósito de vida e quando percebemos o que dá sentido às nossas vidas, conseguimos contribuir para um mundo melhor e isso faz todo o sentido no contexto do futuro do trabalho”, avalia.

Aplicado ao dia a dia das empresas, a consultora destaca que novos tempos requerem novas formas de trabalhar e pensar e, portanto, é necessário repensar a maneira como produzimos, consumimos e nos relacionamos.  “Todas as empresas têm um propósito, que é a essência que justifica a sua existência, mas nem sempre está claro. Por isso, nosso papel é mostrar o caminho, pois para inovar precisamos saber para onde vamos”, reforça.

Jornada da inovação

Dados de pesquisas comprovam o que Evelin afirma. Nos últimos anos, empresas orientadas por propósito tiveram crescimento de 85%, segundo um estudo da Harvard Business School. Por sua vez, empresas sem um propósito definido reportaram queda no crescimento. Neste cenário, o consumidor dita as regras e segundo um estudo da Edelman, 89% das pessoas tendem a comprar de empresas que apoiam soluções de problemas sociais.

Para construir uma mentalidade orientada para o futuro, é necessário compreender os sinais de mudança e definir teses de curto, médio e longo prazo.  Segundo Evelin, as tendências e tecnologias que estão moldando o futuro e impulsionando a inovação no trabalho são focadas em quatro pilares: o tecnológico (avanços para uma conexão cada vez maior entre a máquina e homem, como inteligência artificial); espiritual (qualidade de vida); emocional (bem-estar, ESG) e social (equilíbrio entre vida e trabalho).

A grande verdade é que empresas que não entenderem que a busca por propósito é o que rege hoje na era pós- revolução industrial perderão relevância e consequentemente clientes e colaboradores. “Propósito é uma jornada de constante aprendizado tanto para pessoas quanto para empresas. E, para ter clareza de que o caminho está certo, é importante trazer o propósito para o centro, tornando-o um importante direcionador onde nenhuma decisão é tomada sem olhar se há alinhamento com ele.  No final do dia, procura-se a nova mente que impactará o futuro, não a nova tecnologia. No meio desse mundo tecnológico e digital ainda somos a peça-chave”, avalia Evelin. 

Dobra: um case de inovação com propósito

A Dobra, uma pequena empresa localizada em Montenegro (RS), é uma boa referência de gestão inovadora com propósito. Idealizada a partir de um trabalho para a faculdade, a carteira de papel, carro-chefe da empresa, virou um negócio familiar que foi constituído em 2016 por Guilherme Massena; seu irmão, Augusto Massena, e seu primo, Eduardo Hommerding.

Imagem fornecida pela Dobra.

Segundo Guilherme, desde o início, o que eles queriam era não só vender um produto, mas a partir dele criar um negócio humanizado alinhado com valores como impacto social, economia colaborativa, capitalismo consciente e nova economia. “Essa visão foi uma inspiração, pois eu não me enxergava trabalhando como um executivo de terno e tudo mais. Ao longo dos estudos que fizemos conhecemos negócios que já atuavam de forma diferente e a maneira como funcionavam nos inspirava. Com o tempo passamos a ser referência, mas nada foi planejado. Só queríamos fazer diferente e ao longo dos anos fomos aprimorando”, comenta Guilherme sobre a trajetória da Dobra ao longo de seis anos.

Os diferenciais da Dobra começam pela matéria-prima que pode ser reciclada, ou seja, quando o cliente quiser trocar a carteira, ele devolve a usada e leva uma nova com desconto, contribuindo para o ciclo sustentável do produto. As estampas das carteiras são criadas por artistas independentes que ganham parte do lucro das vendas e os moldes são disponibilizados no site da empresa, assim quem quiser criar sua carteira e revender não precisa pagar nada por isso, gerando uma economia colaborativa.

Imagem fornecida pela dobra.

“Muitas ONGs e projetos já utilizam a ferramenta das estampas para angariar fundos e ter uma renda extra. Inclusive uma ONG de brasileiros em Angola com a qual temos parceria. Um canal excelente, pois temos mais estampas para ofertar, sem precisar criar. Para quem comprar é uma forma de colaborar com um artista ou um projeto. Para quem cria as estampas é uma operação sem custo, pois nós cuidamos de toda a parte administrativa”, explica Guilherme

A empresa também desenvolve ações sociais na cidade de Montenegro junto à comunidade local, entre elas o projeto Mãos à Dobra com alunos de uma escola pública. “Nosso lema é fazer local para inspirar global. Nós nascemos em Montenegro, conhecemos a cidade e as pessoas, e para nós é muito importante poder ser um vetor de mudança positivo para a cidade e inspirar outros jovens que estão começando”, destaca o sócio fundador da Dobra.

Hoje a Dobra possui três sócios, sete funcionários registrados e mais 14 pessoas ativas na área de produção que são terceirizadas. O ambiente de trabalho prima pela transparência com salários equiparados e liberdade, onde cada um administra seu tempo e horário. Crescer de forma consciente é a opção da empresa que decidiu segurar o faturamento e se manter como uma empresa pequena para melhorar a eficiência e os valores nos quais acredita.

“A gente quer seguir nessa pegada de fazer diferente e poder se consolidar em novos mercados. Aceitamos um convite da Amazon e começamos a vender nossos produtos para o mercado americano, uma nova aposta. Temos pessoas em Portugal, Austrália e Nova Zelândia que também revendem produtos da marca”, conta Guilherme. Também está no radar, ampliar a gama de produtos e melhorar a qualidade de vida das pessoas que trabalham na empresa, inclusive com aumento de salários. Mas, o mais importante é continuar sendo referência em novos negócios que impactam na vida das pessoas.

E o que o jovem Guilherme diria para os gestores de empresas que estão começando essa jornada de inovação com propósito? “Eu diria para eles acompanharem os estudos sobre práticas humanizadas de gestão que estão comprovando no mundo inteiro que essas empresas são mais lucrativas. E, se eles pretendem ser referência de mercado, precisam entender que ou mudam os meios pelos quais atingem esses objetivos ou mudam os objetivos, porque não tem mais espaço para as empresas que acham que o objetivo final é simplesmente ganhar dinheiro a qualquer custo”.

InnovACTION Week: semana de inovação

A TK Elevator promove anualmente uma semana para a imersão em assuntos atuais relacionados à inovação. Este ano, o tema foi O Futuro do Trabalho e contou com uma programação bem variada e recheada de conteúdo com transmissão on-line.

A partir do enfoque central foi possível gerar reflexões individuais e coletivas sobre o papel de cada um na transformação das relações humanas e o impacto na construção de um mundo melhor.

Um futuro que começa a ser moldado, a partir das ideias de melhoria contínua que são compartilhadas no Portal i9 com a participação dos colaboradores que têm papel fundamental no processo de inovação que está em andamento na empresa.

Um caminho que vem sendo construído na TKE de forma continuada, a partir de novas ferramentas, estratégias, ideias e conhecimentos que se multiplicam, criando novas conexões para impulsionar a inovação na empresa.

Obs: a imagem utilizada na capa deste artigo foi fornecida diretamente pela empresa Dobra.

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