Há um movimento de inclusão de negros no mercado de trabalho, principalmente em redes de varejo, como lojas de departamento e restaurantes fast-foods. Mas, apesar desse crescimento, esse grupo continua ocupando os cargos mais baixos da hierarquia das corporações e dificilmente está nas funções de supervisão, gerência e liderança.
Portanto, há muito a ser feito, principalmente ao levar em conta que os negros representam 55,8 % da população brasileira, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e são maioria nas estatísticas de alto desemprego no país em relação aos indivíduos brancos.
Segundo informações da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), do IBGE, os negros representam 72,9% dos desocupados no Brasil, de um total de 13,7 milhões de pessoas nessa situação.
Tamanha desigualdade ocorre, principalmente, em virtude do racismo institucional, que é praticado por organizações públicas e privadas e cria uma barreira que dificulta o ingresso de negros nas corporações, por meio dos processos internos de contratação.
Esse tipo de racismo, responsável por promover a grande desigualdade nas distribuições de emprego e renda, surgiu como consequência do racismo estrutural, que foi desenvolvido a partir de medidas autoritárias e excludentes que levaram os negros à margem da sociedade no período pós-abolição.
Segundo a professora Adiles da Silva Lima, licenciada em Letras e Literaturas e especialista nas culturas africana e afro-brasileira, tais medidas, gradativamente, criaram meios de naturalizar a exclusão social e têm sustentado a estrutura social brasileira nos mais variados campos, como trabalho, política, educação, economia, cultura e religião.
Para ela, é de fundamental importância discutir o racismo institucional no mês em que é celebrado o Dia da Consciência Negra – 20 de novembro. “A sociedade brasileira precisa enxergar a si e ao próximo. Vivemos um momento de extrema fragilidade das relações raciais. Negros, que construíram o nosso país com suas expertises, e indígenas, que atuam como guardiões da natureza e da nossa biodiversidade, ainda são vistos como um incômodo para as autoridades públicas, com raras exceções”, analisa a professora.
Educação para incluir
Adiles também reforça a dificuldade enfrentada por uma pessoa negra para conseguir emprego fixo, com salário digno que dê acesso a bens sociais básicos como saúde, moradia e educação de qualidade. Segundo ela, para obter tudo isso é necessário antes capacitar a pessoa, o que muitas vezes é difícil por conta dos obstáculos sociais, já que na maioria dos casos, desde muito jovens, os negros precisam ajudar no sustento de suas famílias.
Apesar disso, ela vê iniciativas com bons resultados em prol da população negra. Um exemplo disso é encontrado na Comunidade de Paraisópolis, em São Paulo (SP), onde a Central Única das Favelas (Cufa) desenvolve inovadores programas socioeducativos que envolvem os moradores e estimulam a proatividade, tornando-os autores na condução de suas vidas e nas de seus descendentes.
Adiles acredita que a mudança de fato só virá com investimento em educação e em políticas públicas criadas para resolver questões relacionadas aos direitos humanos e para reduzir a exclusão, além de debates que estimulem reflexões em favor da mudança de comportamento para que qualquer pessoa tenha acesso a emprego digno e possa competir em condição de igualdade nas empresas.
Debate no trabalho
Para que esse processo obtenha êxito, é importante também que as corporações adotem uma cultura de antirracismo. Assim, poderão desenhar políticas internas sobre o tema e incentivar a participação dos funcionários por meio de comitês que tenham como função a desconstrução de conceitos estabelecidos pela sociedade e a promoção da diversidade.
Um recurso essencial no processo é contar com a participação de líderes que falem sobre racismo com as equipes, promovendo debates e levando conhecimento sobre as diferenças culturais. “É preciso buscar a equidade, disponibilizando o máximo de informação de maneira igualitária para todos” ratifica Susanne Catai Ferreira Santos, Representante do Pilar Étnico-racial do Comitê de Diversidade e Inclusão da TKE.
Para ela, a representatividade ganhará força quando os negros ocuparem cargos de liderança, superando as barreiras impostas pela sociedade.
Na busca por esse caminho, o Programa de Diversidade e Inclusão tem na temática étnico-racial um dos pilares de atuação de uma empresa que está aprendendo e se desenvolvendo no caminho da diversidade e inclusão. “Por meio do programa envolvemos os funcionários em debates que ajudam a promover a inclusão de pessoas de diferentes raças nos ambientes da nossa empresa. Mais do que crescimento profissional, estamos falando de um crescimento pessoal”, finaliza Susanne com a disposição necessária para integrar novos desafios em favor de uma causa tão urgente.